Por que nos sentimos inseguros? Como podemos mudar isso?
Por que nos sentimos inseguros? Uma nova forma de ver a si mesmo
A palavra "insegurança" denota um estado emocional complexo, caracterizado pela ausência de confiança ou pelo temor em relação a aspectos internos ou externos. Esse estado de desconfiança pode se manifestar de diversas formas, tais como ansiedade, medo, autocrítica exacerbada e hesitação diante das escolhas.
Ao longo da história, inúmeras figuras proeminentes enfrentaram suas próprias batalhas contra a insegurança. Por exemplo, o filósofo existencialista Søren Kierkegaard explorou extensivamente o tema da angústia e da incerteza, fornecendo insights valiosos sobre como lidar com esses sentimentos. Na literatura, personagens como Hamlet, de William Shakespeare, personificam a luta interna entre a dúvida e a confiança, oferecendo aos leitores uma visão complexa das nuances da insegurança humana.
Entretanto, enquanto podemos expressar com facilidade o que significa sentir-se inseguro, será que temos a mesma clareza quando se trata do oposto, da sensação de segurança? Será que compreendemos verdadeiramente o que é sentir-se seguro?
Uma das indagações que mais me fascinam no contexto da formação de nossa personalidade é até que ponto nossas percepções e conhecimentos são moldados por aprendizados ou se são inerentes a todos, sendo que alguns indivíduos desenvolvem habilidades para lidar com eles de forma mais eficaz. Além disso, podemos nos questionar sobre a natureza da identidade em si: quem somos nós verdadeiramente, o que gostaríamos de ser? Nossa identidade é fixa ou fluida? Essas reflexões alimentam a discussão sobre como construímos nossa autoimagem e lidamos com a insegurança.
A interrogação central que surge ao título deste texto é: Por que nos sentimos inseguros? Embora tenha algumas conjecturas a respeito, nenhuma delas parece, por si só, conclusiva ou abrangente o bastante para esgotar a questão. No entanto, podemos explorar algumas respostas que oferecem insights satisfatórios.
De acordo com minha perspectiva, identifico dois tipos distintos de insegurança, cada um oriundo de fontes distintas.
Primeiramente, há o que denomino de "insegurança lapidada". Assim como as pedras preciosas, que necessitam ser lapidadas para adquirir beleza e valor, assim acontece com tudo aquilo que compõe nossas interações nas redes sociais. Sob uma lente sociocultural, o conceito de "popularidade" delineia padrões e modelos do que é considerado aceitável para o corpo e para a mente, construindo identidades e imagens muitas vezes desconectadas da realidade da maioria. Ao impor tais moldes, uma sensação de insegurança é incutida, alimentada pelo constante bombardeio de mensagens que sugerem a necessidade de se encaixar em um molde predefinido, mesmo que isso signifique ignorar aspectos autênticos de si mesmo.
Em segundo lugar, encontramos a "insegurança passivo-agressiva", caracterizada pela internalização de uma visão depreciativa de si mesmo, sem que haja uma ação proativa para confrontá-la. Nesse caso, a pessoa concentra sua atenção em aspectos que percebe como negativos, alimentando um ciclo de autocrítica e autocondenação, ainda que apenas em sua mente, sem efetuar mudanças ou buscar soluções.
Como então podemos transcender esse estado de insegurança?
Existem apenas duas abordagens viáveis: a primeira envolve ações concretas para promover mudanças tangíveis. Isso pode incluir estudos, práticas de exercícios ou o acompanhamento terapêutico. A segunda abordagem é mais introspectiva e envolve o reconhecimento das próprias inseguranças, aliado à recusa em sucumbir aos padrões mentais autodepreciativos. Perguntar a si mesmo "Por que estou dando tanto poder a isso?" e praticar exercícios de clareza mental, como mencionado em meu texto anterior, podem gradualmente minar o domínio da insegurança sobre nossa vida.
É possível eliminar completamente a insegurança?
Não, a autocrítica e o medo da desaprovação são partes inevitáveis da experiência humana, uma vez que estamos constantemente expostos a estímulos externos. Contudo, o mais importante é adquirir a capacidade de não se deixar dominar por essas emoções.
Você não é você!
Eu sei que essa afirmação pode parecer paradoxal, mas com o tempo você compreenderá sua profundidade. Você nunca é a mesma pessoa porque nada permanece inalterado. Inúmeras variáveis em nosso cotidiano nos transformam continuamente: um sonho perturbador, a escolha de uma bebida diferente, uma simples interação nas redes sociais. Essa impermanência gera uma gama infinita de possibilidades que torna impossível controlar todos os aspectos de nossa vida. Em alguns dias, você pode sentir-se belo(a) devido a uma leve mudança em sua aparência, enquanto em outros, pode sentir-se terrível pelo simples fato de que essa aparência tenha se alterado novamente.
O filósofo Heráclito proferiu uma célebre frase:
"Ninguém entra no mesmo rio duas vezes, pois quando isso acontece já não é o mesmo, assim como as águas que já serão outras".
Essa reflexão nos conduz à pergunta: se tudo está em constante mutação, por que insistimos em manter a mesma imagem de nós mesmos?
A resposta é simples, embora difícil de ser internalizada: você não é a mesma pessoa, você é a projeção que escolheu para si mesmo. Ao aceitar a transitoriedade das coisas e reconhecer que estamos sempre em fluxo, mesmo que inconscientemente, compreenderemos que nossas inseguranças são construções que criamos.
Ao reconhecer essa verdade e abraçar todas as facetas de nossa existência, entenderemos que não há mal em não ser ou sentir-se perfeito(a) todos os dias, pois, em última análise, a única constante é a mudança, e aquilo que busca permanecer inalterado com o tempo são meras ilusões. E como toda ilusão, elas eventualmente se desfazem, pois, ao confrontar o fluxo inexorável do tempo e da mudança, o destino é quase sempre determinado por eles.